domingo, 24 de janeiro de 2010


Eu nunca pensara que uma noite de insonia mudaria a minha vida, mas aquela terça-feira mudou. Eu estava totalmente sem sono, talvez por causa de alguns problemas, andava pensando demais, como eu gostava de andar quando estava um pouco nervosa, resolvi ir até a praça que ficava no final da rua onde eu morava.
Fui andando vagarosamente até lá, quando cheguei, meu vizinho, Lucas, estava lá, sentado em uma das balanças de madeira, conversamos apenas duas vezes, mas ele era bem legal e simpático comigo. Sentei na balança que estava vazia ao seu lado, riscando com os pés um desenho abstrato no chão de areia.
- Oi Marina - disse ele olhando rapidamente para o meu rosto e depois para o desenho - está sem sono?
- Oi, sim, ando pensando em muita coisa, está meio difícil de dormir - lhe respondi envergonhada com sua presença.
- Sei como é, também não consigo dormir por isso.
- Hum - murmurei sem saber o que dizer, estava com muita vergonha e sempre ficava sem fala quando isso acontecia.
- Você está com muitos problemas? - perguntou se levantando.
- É, um pouco, coisas normais, de família a maioria.
- Entendo, já passei por muitos problemas na família - dizia ele tentando puxar algum assunto - você quer andar?
- Claro - disse me erguendo devagar.
Começamos a andar na pista de cooper da praça, não falávamos nada, eu não era a única pessoa envergonhada naquela hora.
- Você tem namorado? - perguntou ele olhando em meus olhos pela primeira vez na noite.
- Não, sou muito nova - disse admirando a cor de seus olhos brilhando com a luz da lua cheia - e você?
- Também não, ainda não encontrei alguém por quem eu me apaixone.
- Digo o mesmo, mas acho que se apaixonar é tão fantasioso, o amor não existe.
- Sim, o amor existe - ele disse convicto e parou de andar virando-se para mim.
- Não, mas vamos supor que sim, o que eu não estou vendo?
- Você vai ver quando sentir - disse pegando em minhas mãos.
Eu estava com medo, começava a ficar gélida, envergonhada e a ponta dos meus dedos estavam formigando. Olhava fixamente para ele, mordendo o lábio inferior. Ele largou uma de minhas mãos e começou a passá-la em meu rosto, depois afastou o meu cabelo comprido, que estava escondendo minha bochecha, para trás e me deu um beijo delicado no rosto, aquele momento foi um pouco apavorante, mas eu estava começando a sentir pontadas no meu coração, nunca sentidas antes, foi estranho, mas bom.
- Eu tenho que ir - disse ele no meu ouvido - amanhã você vai voltar aqui?
- Sim, às três da tarde estarei aqui.
Ele beijou minha bochecha mais uma vez e foi. Me senti confusa e enjoada, mas acho que agora estava vendo um pouco mais daquilo que ele falou sobre o amor.
No dia seguinte, eu levantei muito tarde, pois passara a noite em claro pensando nele. Levantei, tomei banho, me arrumei e fui direto para a praça.
Eu achei estranho pois só tinha ele na praça, estava sentado na mesma balança da noite passada, estava com fones de ouvido, sentei ao seu lado e comecei a desenhar no chão de areia novamente.
- Ouça - ele disse me entregando o seu headfone.
- É a minha música preferida - disse sorrindo e devolvendo-lhe o fone - vamos andar? - indaguei-o levantando.
- Claro.
Começamos a andar sob o sol daquela tarde, os seus olhos brilhavam como nunca, ele pegou minha mão, mas dessa vez não parou de andar.
- Você é tão...tão...doce - ele disse com uma expressão estranha e me beijou.
Depois que ele me beijou eu disse sorrindo:
- Você...tem um cheirinho bom.
Ele começou a rir, eu apenas segurei em sua mão, forte.
- E quando acabar? Não vai doer?
- Não pense em terminar, apenas aproveite enquanto durar.

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